Enquanto outros gritavam Bom Ano e aquelas coisas todas associadas, eu ficava com uma sensação de ter perdido alguma coisa, como se o velho já não interessasse. As pessoas ficavam tão felizes com um novo ano, que até parecia estarem a matar aquele ano que acabava de passar… e eu sentia-me numa espécie de funeral daquele ano abandonado, que nos tinha dado a hipótese de chegar a um novo.
Por outro lado, o novo ano era como um bebé que nascia, em que todos festejam e gritavam como se fossem criadores do mesmo.
Eu também ficava contente com um novo ano, mas não queria matar o velho… Era como se houvesse lugar para todos, para o novo e para o velho. Novos e velhos, passado e futuro ali, tudo compactado naquele minuto transitório a que chamámos passagem de ano.
Questionei-me se não deveria abandonar aquele meu procedimento de ficar com pena do ano velho…
Uma outra abordagem, seria uma forma de protecção a todos no mundo. Ou seja, não precisamos de matar um para celebrar outro, pois se os separamos por segundos, também poderá significar que funcionam em simultâneo. E porque não, não temos bebés e velhos a viver no mesmo mundo, então porque não dois anos ou vinte ou mil a viver ao mesmo tempo? Afinal não fomos nós, que atribuímos datas aos acontecimentos? Não somos nós que vivemos presos às cronologias? Não somos nós que criamos o tempo? Que criámos relógios? Então porque não celebrar vários tempos, vários anos, vários acontecimentos, o tempo antes da meia noite e o tempo depois da meia noite, como o mesmo? …Como um único tempo que existe? O tempo presente. Puras ilusões…
Bom ano!
Vera Bilé
Sem comentários:
Enviar um comentário